Tem muita gente que ainda acredita que o domínio do idioma inglês só sirva para obter um certificado de proficiência linguística que permita voar no exterior (ICAO-4/5/6) – ou, no máximo, para cumprir com uma “exigência descabida” de algum processo seletivo de linha aérea. Longe disso! Assista ao excelente vídeo ilustrativo da operação do Embraer Phenom 100, produzido pelo Por Onde Voa Você?, para ver como é necessário conhecer inglês até mesmo para voar uma aeronave projetada e construída no Brasil!
“Ah, mas eu uso um “macetário” do manual e dos checklists em português, e consigo operar a aeronave mesmo sem saber inglês!”. Pois é… O problema é que esses “macetários” não são reconhecidos pelo fabricante, e portanto também não o serão pelas autoridades. Se, porventura, acontecer um acidente e ficar comprovado que o piloto não efetuou os procedimentos recomendados pelo fabricante por incapacidade para compreender a documentação original da aeronave, possivelmente o seguro irá se eximir da cobertura, e as responsabilidades civis e criminais recairão sobre o tripulante. Isso sem contar com a falta de profissionalismo inerente ao uso de “macetários”, né?
Existe uma discussão sobre a legalidade da inexistência de manuais em português para as aeronaves comercializadas no Brasil. Qualquer eletrodoméstico ou automóvel importado comercializado no país só pode ser vendido se tiver um manual em português, e com as aeronaves não deveria ser diferente. Mas enquanto isso não se resolve, o piloto continua necessitando conhecer inglês para poder garantir a segurança da operação. Ou então voar somente aeronaves que possuem documentação original em português, como o Paulistinha…
Fabio Otero
agosto 24
O movimento deveria ser justamente no sentido oposto. Não obstante o marco regulatório (no que diz respeito a fé pública de documentos etc), a própria ANAC já tem alguns docs que já são publicados exclusivamente em inglês. E é irreversível. Assim como o Grego e o Latim foram os idiomas de ligação lá no início, hoje é o Inglês. E será ainda, por muitas décadas. Não há como fugir disso em profissão alguma, mas na Aviação menos ainda, por razões óbvias. E – no meu entendimento, por experiência própria – “estudar para passar” e obter LEVEL 4 é um grave erro. Use um método de imersão, estude para se tornar fluente, saia do meio da boiada. Como dizia o falecido fundador de uma “major carrier” brasileira: “Na busca do bom não se chega ao ótimo.”
http://blogdafluencia.com/por-que-o-brasil-nao-fala-ingles/
Pacelli Francesco
agosto 24
É pelo visto vou ter que voar paulistinha por um bom tempo ainda 😐
Drausio
agosto 24
Com o perdão ao desvio do tema principal do post, gostaria de compartilhar uma reflexão suscitada por uma informação contida no texto: “Existe uma discussão sobre a legalidade da inexistência de manuais em português para as aeronaves comercializadas no Brasil.” Então quer dizer que a judicialização da vida, do universo e tudo o mais já chegou à aviação? E parece que chegou em grande estilo, com uma questão que, a depender dos resultados jurídicos do imbróglio, pode envolver fabricante, operadores, pilotos, mecânicos, processos de manutenção, etc. Resolver questões controversas por meios judiciais é, quase sempre, um recurso extremo, que na imensa maioria dos casos produz resultados pouco satisfatórios (e pouco razoáveis, racionais, eficientes, eficazes, produtivos) para todos os envolvidos. Não é razoável esperar que o sistema de justiça possa oferecer melhores soluções para questões técnicas do que aquelas que surgiriam de um consenso negociado entre os diferentes profissionais técnicos de uma área de atividades, sem recorrer ao poder judiciário para o bom termo do processo. A judicialização da vida é uma tendência do mundo contemporâneo. Se a aviação não souber resistir a ela, vai se tornar cada vez mais burocrática, limitada, ineficiente, desencantada, descolorida e chata.
Raul Marinho
agosto 24
Não sei se a questão foi judicializada (acredito que não), mas que a inexistência de manuais em português fere a legislação do país, sem dúvida.